Home
 

apresentação sobre
René Girard
livros seminário
internacional
editora É imitatio miméticos
blog
fórum
Home > Seminário Internacional > Livros

 


Formato: 16 X 23 cm
Número de Páginas: 520
Acabamento: Brochura
ISBN: 978-85-8033-047-2

 

 

Despojada e Despida:
A Humilde História de Dom Quixote –
Reflexões sobre a Origem do Romance Moderno

Cesáreo Bandeira

Este livro trata de uma série de reflexões sobre a origem do romance moderno, tendo por eixo central a história de Dom Quixote, de Cervantes.

O atrativo literário de Dom Quixote emana do escândalo, está ligado a seu desejo de obstáculo, desejo eminentemente literário, ou literaturizado. A profundidade do romance deriva de ele superar precisamente a visão e o desejo escandalizado, o que é o mesmo que dizer que deriva de seu desejo de salvar Dom Quixote do escândalo, de sua alienação no e pelo obstáculo, de devolver-lhe a visão da realidade, impedida, bloqueada, por essa alienação.

Este livro trata de uma série de reflexões sobre a origem do romance moderno, tendo por eixo central a história de Dom Quixote de Cervantes.

O atrativo literário de Dom Quixote emana do escândalo, está ligado a seu desejo de obstáculo, desejo eminentemente literário, ou literaturizado. A profundidade, a relevância, a verdade do romance derivam de ele superar precisamente a visão e o desejo escandalizado, o que é o mesmo que dizer que derivam de seu desejo de salvar Dom Quixote do escândalo, de sua alienação no e pelo obstáculo, de devolver-lhe a visão da realidade, impedida, bloqueada, por essa alienação.

Mas uma coisa é o extraordinário atrativo de Dom Quixote, e outra a extraordinária profundidade do romance, Dom Quixote,a profundidade que lhe dá tão persistente, tão duradoura relevância através dos séculos. 

Não se trata aqui de tirar Dom Quixote de seu pedestal para pôr nele Cervantes. A profundidade do romance não deriva exatamente da profundidade de Cervantes, de sua superdotada inteligência ou algo assim. Deriva, sim, de algo tão simples como um desejo de compaixão autêntica, isto é, não catártica, não literária, desejo unido e guiado, naturalmente, por uma grande clarividência. Cervantes não se escandaliza diante de Dom Quixote, não compete com ele; relaciona-se com ele de maneira simples, não dúplice, não ambivalente. Através dessa compaixão cervantina, o inventor literário de Dom Quixote não se relaciona com seu personagem literariamente, more poetico,por assim dizer.

Não se pode falar, por conseguinte, do romance moderno em seu conjunto e em suas diversas manifestações através dos séculos como um “gênero” (se é que se pode falar de gênero aqui) ou como uma forma literária dessacralizada. A única coisa que se pode dizer é que o romance moderno nasceu de um profundo ato de dessacralização, o que Cervantes soube levar a efeito em Dom Quixote.Isso não quer dizer que sua prolífica descendência lhe tenha sido sempre fiel.

A dessacralização é um fato, com suas próprias consequências, quando chega a produzir-se. Mas, antes de produzir-se em circunstâncias concretas e adotar determinada forma, a dessacralização é uma exigência e, sobretudo, um chamado, algo que se transmite mediante a palavra. Podemos dizer que essa exigência se faz sentir com mais força e esse chamado se ouve com mais clareza no começo da Era Moderna. Talvez seja essa a característica mais significativa da nova era. O que, sim, podemos dizer confiantemente é que Cervantes foi o primeiro a responder a esse chamado e cumpriu essa exigência no terreno da ficção literária. Ninguém o havia feito antes. E a partir desse momento se abriram na história da literatura de ficção possibilidades que ninguém, incluído Cervantes, havia previsto. Doravante, escrever um romance será escrever “imitando a maneira de Cervantes, autor de Dom Quixote”, como diria Henry Fielding de seu Joseph Andrews.

Mas também é verdade que a posição do pioneiro Cervantes, precisamente por ser o primeiro, é única, e que o caráter emblemático, literalmente simbólico, de Dom Quixote,ou seja, da história do resgate humano do louco que se acreditava herói, é irrepetível. Porque foi ele, Cervantes, quem resgatou o louco e infundiu nova vida à ficção literária. Todos os que vieram depois foram herdeiros desse resgate único. Mais que descobrir ou inventar diretamente uma nova forma literária, o que Cervantes fez, ao resgatar o velho louco do destino que tivera na velha ficção, foi evidenciar, por contraste, o escondido segredo da forma antiga, a verdade oculta que, desde tempos imemoriais, residia na antiga ficção e a animava. Não será só o futuro das novelas de cavalaria o que será afetado após o triunfo do Quixote.

sugestões e informações É Realizações  |  editora - espaço cultural - livraria
Rua França Pinto, 498 - Vila Mariana - São Paulo/SP - CEP 04016-002 | (11) 5572-5363