O Pecado Original à Luz da Ressureição:
A Alegria de se Perceber Equivocado
James Alison
James Alison é teólogo no sentido moderno e clássico ao mesmo tempo. O sujeito principal desse livro é o pecado original e o simples fato de descender de Adão e Eva nos torna todos culpados do pecado dos nossos primeiros pais. O texto desse dogma sempre fez dele alvo de críticas.
Para o autor, o dogma do pecado original não é nenhum complô cínico de um clero ávido de poder, nem o absurdo de um pensamento balbuciante. Longe de procurar suscitar o terror, o pecado original é a base indispensável de toda doutrina da salvação.
Para mostrar que o dogma não agita nenhum fantasma imaginário, James Alison recorre à hipótese mimética do filósofo René Girard.
O simples fato de descender de Adão e Eva nos torna todos culpados do pecado dos nossos primeiros pais. O texto desse dogma sempre fez dele um pilar da cruzada anticatólica, a prova manifesta de que a imensa maioria dos nossos concidadãos só vê nele praticamente uma alusão ao ato sexual e, portanto, a prova do mais profundo obscurantismo.
É essa ideia do pecado original que em geral os “filósofos” do século XVIII usavam para convencer os seus leitores de que os padres “desonestos e ávidos” só têm uma ideia em mente: aterrorizar as populações crédulas para perpetuar nelas uma dominação injustificável.
James Alison não tem nada de conservador. O que condena no Vaticano II não é sua audácia, mas sua timidez. Ao contrário de tantos progressistas pós-conciliares, entretanto, sua fé religiosa e forte educação teológica protegeram-no das interpretações ridículas e do desprezo infantil que geralmente inspira nos dias de hoje a doutrina tradicional. Ele não confunde a ideia de pecado original com uma manobra sórdida usada para aterrorizar as pessoas simples.
O dogma não é o complô cínico de um clero ávido de poder, nem o absurdo de um pensamento balbuciante. Longe de procurar suscitar o terror, o pecado original é a base indispensável de toda doutrina da salvação.
Para mostrar que o dogma não agita nenhum fantasma imaginário, James Alison recorre à hipótese mimética. O que essa hipótese acredita é que se pode extrair, detrás das mil formas de desordem e de violência nos homens, uma causa secundária, mas imediata e manifesta, que o racionalismo tradicional sempre desconheceu e que o bom senso revela.
Essa causa é a natureza imitativa dos nossos desejos. Para desejar, o ser humano precisa sempre de um modelo, e o objeto que esse modelo deseja, o imitador também o deseja. Se esse objeto for único, um ser querido, por exemplo, não podemos desejá-lo também sem afetar nossas relações com esse modelo, que o designa como nosso desejo ao mesmo tempo em que ele próprio o deseja. Ao afeto natural dos homens entre si se mistura facilmente um espírito de rivalidade que, num momento ou outro, envenena a existência da maioria dos homens. |